(A Questão) Ele sempre se pega pensando “Quem sou Eu?”. O clichê ensaiado
e obvio da ocasião combatem com a realidade crua e por diversas vezes - seja em
uma dinâmica de grupo, entrevista de emprego ou no simples ato social de
apresentação – um torpor instantâneo lhe consome e faz mergulhar nessa simples
e complexa questão. Em milésimos de segundos fatos e casos vem à tona,
lembranças e segredos emergem como um flash aos olhos e baque surdo no peito.
(O Começo) Quando criança a primeira lembrança é de um garoto que
gostava de inventar histórias para dormir e esquecer o escuro, sonhando ser
grande e não temer nada. O primeiro sonho foi facilmente alcançado logo nos
primeiros anos de escola, sendo considerado um gigante ogro, tamanha a altura
em comparação aos seus iguais, o que o motivaria a tirar vantagem de sua condição, sonhando talvez em ser um jogador de basquete. Carreira essa que não perdurou, lhe faltava
talento e o gosto por histórias era mais forte, nessa altura começou a estudar
desenho e ilustrar seus contos e pensamentos.
(A Fantasia) No mundo dos desenhos, historias, fantasias e heróis, tomou
gosto pelos filmes dos mais variados gêneros – o drama estranhamente lhe fascinava
mais que qualquer outro -, uma tarde sem filme era inadmissível, que por vezes assistia facilmente 3 em um único dia, rejeitando sem pensar
convites para o famoso 'brincar lá fora'. Tal ritmo de vida transformaria tal sonhadora
criança desproporcionalmente maior ainda.
(O Físico) Foi quando sua família lhe “motivou” a voltar ao esporte, o transformando
em um recordista de modalidades – karatê, futebol, judô, vôlei, handball,
natação, aikido, ciclismo, capoeira, corrida, caminhada, skate, patins, musculação
e afins - todas com os mais altos índices de fracasso já registrados, até que
uma grave fratura seguida pela revelação de um parente de que “A família era
amaldiçoada há gerações e nenhum membro do clã teria êxitos em atividades
ligadas à capacidade física”, pôs fim em sua vida esportista.
(A Música) Revoltado por não ser
bom em praticamente nada, o que restou foi a identificação com a música, em tons agressivos e temas revolucionários, passou a sonhar em ser musico, entre
várias bandas e instrumentos – guitarra, baixo, teclado, bateria, vocal -,
passou a suspeitar que a maldição da família talvez se estendesse ao ramo artístico.
(A Escolha) Na escola, sonhou em um dia ser professor ou trabalhar em
uma grande empresa, mas na área de humanas, já que os números lhe causavam estranha confusão mental e vontade de sair correndo. Prestou geografia, cogitou
filosofia, cursou psicologia e se viu em um trabalho que nem sequer sabia que
existia. Pensou em inúmeras vezes em desistir de tudo, tentar coisas novas,
coisas simples, coisas complexas, em partir em aventuras, contrariando qualquer
entendimento de normal, estável ou certo. Por vezes apenas desejando ficar em casa, entre papéis, caneta e idéias.
(O Sentimento) Após a fatídica questão que lhe remete a tantas
passagens, mudanças e tentativas em poucos segundos, o silêncio até a resposta
parece durar horas e a resposta que muitas vezes é dada de acordo com o tempo, espaço
e ocasião é ecoada durante uma eternidade em seu mundo particular. O que lhe faz
refletir sobre aquele garotinho do começo, que tinha medo do escuro, algo que
não se vê, apenas se fantasia sobre. Escuro que nos dias de hoje é substituído pelo
Futuro, algo que também não se vê, apenas se fantasia sobre. Antes de dormir, ele reflete sobre a pergunta, buscando achar uma resposta verdadeira, mas continua inventando histórias para esquecer, por ainda temer tanta coisa...
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